terça-feira, 3 de março de 2015

Na amplidão do meu ser

Fernanda Reigota

Regresso ao mar: simplesmente o mar!
Na amplidão do meu ser,
ser eu por inteiro,
ver-me acontecer!
No mar e na sua vastidão
o meu reflexo
transgride-me
revolve-se
insurge-se
despedaça-se
não conhece submissão.
Já exausta
uma onda calma banha meus ímpetos:
e a maré cheia de silêncio apazígua-me.
Bendigo
cada partícula de ar que respiro,
cada sorriso que recebo,
cada abraço que desejo,
cada flor prometida,
cada canto de pássaro,
cada tom quente da alvorada,
cada salpico de sal que me atinge…

Olho para além do meu reflexo
e fixo a casa do meu ser no campo de mim:
vida com balizas, vida demarcada, vida com estações,
vida com opções, simplesmente a vida.
Regresso ao mar: simplesmente o mar!

Fernanda Reigota ©2015,Aveiro,Portugal

5 comentários:

  1. Rosa Fonseca publicou no Facebook o seguinte comentário:

    "Fui ler o poema, gostei muito, Fernanda Reigota. A interioridade do Ser..."

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  2. e no campo do seu próprio ser cultivou a beleza das palavras, encheu-as de significado, apaziguou a inquietação dos que vivem sem viver , dos que nunca transgrediram nem deixaram que o mar chamasse o seu nome e os transportasse para além do mundo pequeno em que a palavra morre antes de nascer

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  3. A introspeção de alguém que se sente muito bem com a vida. Prendou-nos, com este belo poema, tendo virado o espelho para os leitores.

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  4. "Ser eu por inteiro/ Ver-me acontecer" - esta é a revelação de alguém que sabia o que queria mas se sentia amordaçada e, numa explosão de sentires, começou a voar. Inebriada pelo momento disfruta da viagem que a conduz sempre ao centro de si – “a imensidão do mar”. Um poema que sabe a sal e nos transporta para além do vento, com um rumo bem definido. Muito, muito bonito. Adorei, Fernanda.

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